CÓDIGO CIVIL
Lei Nº 10.406, de 10 de Janeiro de 2002.
Artigo 396
Não havendo fato ou omissão imputável ao devedor, não incorre este em mora.

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ARTIGOS
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Resumo Jurídico

Excludente de Ilicitude: O Estado de Necessidade no Direito Civil

O artigo 396 do Código Civil trata de uma importante excludente de ilicitude, o estado de necessidade. Em termos simples, essa norma jurídica protege o indivíduo que, diante de um perigo iminente e não provocado por ele, causa um dano a um terceiro para evitar um mal maior para si ou para outrem.

O que é o Estado de Necessidade?

Para que o estado de necessidade seja reconhecido, é preciso que a situação se enquadre em requisitos rigorosos:

  • Perigo Iminente: O perigo deve ser atual ou prestes a acontecer, exigindo uma ação imediata. Não se trata de um risco futuro e incerto.
  • Dano Inevitável: O dano causado deve ser a única forma de evitar um prejuízo ainda maior. Se houvesse outra alternativa menos gravosa, o estado de necessidade não se configuraria.
  • Perigo Não Provocado: A pessoa em estado de necessidade não pode ter dado causa intencionalmente ao perigo. Ou seja, ela não pode ter criado a situação de risco para se beneficiar depois.
  • O Bem Menor Sacrificado: O dano causado a terceiro deve ser comprovadamente menor do que o dano que se pretendia evitar. Essa é uma ponderação crucial: sacrifica-se o bem menor para salvar o bem maior.

A Quem Protege?

O estado de necessidade protege tanto a pessoa que se encontra em perigo (o agente) quanto o terceiro prejudicado pela ação. Por isso, a lei prevê a possibilidade de indenização ao prejudicado.

Indenização no Estado de Necessidade:

Embora o ato seja lícito, a lei não deixa o terceiro desamparado. Quem praticou o ato em estado de necessidade pode ser obrigado a indenizar o prejuízo causado, mas essa indenização pode ser atenuada ou até mesmo suprimida se as circunstâncias justificarem. Por exemplo, se o perigo era gravíssimo e o dano causado foi mínimo, a indenização pode ser reduzida. Ou, em casos extremos, onde o sacrifício foi inevitável e o agente agiu com a devida diligência, a indenização pode não ser cobrada.

Exemplo Prático:

Imagine que um incêndio se inicia em sua casa e, para escapar das chamas, você precise destruir a cerca do vizinho para ter passagem segura. Nesse caso, você estaria agindo em estado de necessidade. O dano à cerca do vizinho (sacrifício do bem menor) é justificado para evitar o dano maior à sua própria vida (bem maior). No entanto, o vizinho pode ter direito a uma indenização pelo prejuízo causado, que poderá ser ponderada de acordo com a gravidade da situação e a extensão do dano.

Importância do Estado de Necessidade:

O estado de necessidade é fundamental para a segurança jurídica e a justiça. Ele reconhece que, em situações extremas, a lei permite que se tome ações drásticas para preservar bens jurídicos essenciais, como a vida e a integridade física, mesmo que isso cause algum prejuízo a terceiros. A análise do estado de necessidade sempre dependerá das circunstâncias específicas de cada caso.