CÓDIGO CIVIL
Lei Nº 10.406, de 10 de Janeiro de 2002.
Artigo 1646
No caso dos incisos III e IV do art. 1.642, o terceiro, prejudicado com a sentença favorável ao autor, terá direito regressivo contra o cônjuge, que realizou o negócio jurídico, ou seus herdeiros.

 
 
 
Resumo Jurídico

O Direito de Arrependimento em Compras e Vendas: Uma Análise do Art. 1646 do Código Civil

O artigo 1646 do Código Civil estabelece um importante direito para as partes envolvidas em contratos de compra e venda, especialmente quando tratam de bens que ainda não foram entregues. Este dispositivo legal visa proteger o comprador de possíveis incertezas e permitir uma reflexão antes da formalização final da transação.

Em essência, o artigo determina que o vendedor não pode exigir o pagamento integral do preço antes de ter entregue o bem negociado. Isso significa que, enquanto o objeto da compra e venda ainda estiver na posse do vendedor, este não tem o direito de cobrar a totalidade do valor acordado.

Por que essa regra é importante?

  • Proteção ao Comprador: Garante que o comprador tenha a oportunidade de verificar a conformidade do bem com o que foi acordado no momento da entrega. Se, porventura, o objeto apresentar defeitos, não corresponder à descrição, ou houver qualquer outro vício que o torne impróprio para o uso ou inferior ao que foi prometido, o comprador poderá exercer seus direitos, como a recusa da entrega e a rescisão do contrato, ou até mesmo exigir abatimento no preço, dependendo da situação.
  • Segurança Jurídica: Promove maior segurança nas relações contratuais, pois as obrigações das partes se tornam mais claras e proporcionais ao longo do processo de compra e venda. O comprador cumpre sua parte (o pagamento, em regra) após ter a garantia da posse e da qualidade do que está adquirindo.
  • Facilitação da Negociação: Permite que as partes negociem com mais tranquilidade, sabendo que a entrega do bem é um passo fundamental para a exigibilidade integral do pagamento. Isso pode evitar litígios futuros e desentendimentos.

Situações e Exceções:

É importante notar que o artigo se refere à exigência do pagamento integral. Em negociações, é comum a previsão de pagamentos parciais (sinal, parcelas) durante o curso do contrato, o que não é impedido por esta norma. O ponto central é a impossibilidade de o vendedor cobrar tudo antes de entregar.

Também é relevante considerar que o próprio contrato pode prever condições específicas para a entrega e o pagamento. Contudo, qualquer cláusula que contrarie frontalmente o espírito protetivo deste artigo, sem uma justificativa legal plausível, pode ser considerada abusiva.

Em resumo: O artigo 1646 do Código Civil consagra o princípio de que a entrega da coisa vendida é um pré-requisito para que o vendedor possa exigir o pagamento total do preço. Essa regra serve como um importante mecanismo de proteção ao comprador, assegurando que ele só pague integralmente após ter a posse e a oportunidade de verificar o que adquiriu.