Resumo Jurídico
O Artigo 90 do Código Tributário Nacional: Dispensando a Lei para Pequenas Transações e Disposições Gerais
O artigo 90 do Código Tributário Nacional (CTN) estabelece uma importante flexibilização na necessidade de leis específicas para a prática de determinados atos no âmbito tributário. Em essência, ele permite que a autoridade administrativa, por meio de atos normativos infralegais, estabeleça regras para a aplicação de tributos em situações específicas e para o cumprimento de obrigações acessórias.
Vamos desmistificar o que isso significa:
Em termos simples:
Imagine que o governo precisa definir como os contribuintes devem declarar informações sobre um novo tipo de receita, ou estabelecer prazos para a entrega de documentos. Se para cada uma dessas pequenas definições fosse necessária a criação de uma nova lei, o sistema tributário se tornaria extremamente lento e engessado. O artigo 90 entra para resolver essa questão.
Ele permite que um órgão do governo, como a Receita Federal, emita instruções, portarias ou resoluções para regulamentar esses detalhes, sem precisar passar por todo o processo legislativo de uma lei.
A Base Legal e suas Implicações:
O artigo 90 do CTN estabelece duas situações principais em que a lei não é estritamente necessária para a regulamentação:
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Dispensa de lei para certas disposições: O caput do artigo 90 permite que a lei delegue a regulamentação de certas matérias a outros atos normativos. Isso significa que a lei cria a base e estabelece os limites, mas a forma de aplicar aquilo no dia a dia, os detalhes práticos, podem ser definidos por um ato inferior.
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Regulamentação de Obrigações Acessórias: O parágrafo único do artigo 90 detalha uma das aplicações mais comuns dessa permissão. Ele permite que a legislação tributária estabeleça obrigações acessórias por meio de atos infralegais (como portarias, instruções normativas, etc.).
- O que são obrigações acessórias? São deveres que o contribuinte tem para com o Fisco, que não consistem no pagamento do tributo em si, mas são importantes para a fiscalização e controle, como:
- Declarações e informes (ex: Imposto de Renda, DCTF).
- Manutenção de livros fiscais.
- Emissão de notas fiscais.
- Apresentação de documentos.
- O que são obrigações acessórias? São deveres que o contribuinte tem para com o Fisco, que não consistem no pagamento do tributo em si, mas são importantes para a fiscalização e controle, como:
Exemplos Práticos:
- Definição de formatos de declaração: A Receita Federal pode, através de uma Instrução Normativa, definir como as empresas devem apresentar suas declarações de impostos, os campos a serem preenchidos e o formato do arquivo digital. A lei que institui o imposto não precisa especificar cada detalhe do formulário.
- Prazos para cumprimento de obrigações: A lei pode prever a obrigatoriedade de uma declaração, mas um ato infralegal pode definir a data exata de vencimento.
- Procedimentos para restituição ou compensação de tributos: Embora a lei garanta o direito à restituição ou compensação, os procedimentos detalhados de como solicitar e obter esses benefícios podem ser definidos por regulamentos.
Importância do Artigo 90:
- Agilidade e Eficiência: Permite que o Fisco responda de forma mais rápida às mudanças e necessidades, sem a morosidade do processo legislativo.
- Detalhamento e Clareza: Possibilita a criação de normas mais detalhadas e específicas para a aplicação da lei tributária, facilitando o cumprimento das obrigações pelos contribuintes.
- Simplificação: Evita que as leis tributárias se tornem excessivamente extensas e complexas, abordando apenas os aspectos gerais e delegando os detalhes para a regulamentação.
Limitações:
É fundamental ressaltar que o artigo 90 não permite que atos infralegais criem tributos ou definam alíquotas. Essas matérias são de competência exclusiva da lei, em respeito ao princípio da legalidade estrita em matéria tributária. O artigo 90 se limita à regulamentação e detalhamento de disposições já estabelecidas em lei.
Em resumo, o artigo 90 do CTN é um instrumento jurídico essencial para a modernização e eficiência do sistema tributário brasileiro, permitindo que detalhes operacionais e obrigações acessórias sejam regulamentados de forma mais dinâmica e menos burocrática, sem, contudo, ferir os princípios fundamentais do direito tributário.