CÓDIGO CIVIL
Lei Nº 10.406, de 10 de Janeiro de 2002.
Artigo 158
Os negócios de transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida, se os praticar o devedor já insolvente, ou por eles reduzido à insolvência, ainda quando o ignore, poderão ser anulados pelos credores quirografários, como lesivos dos seus direitos.
§ 1º Igual direito assiste aos credores cuja garantia se tornar insuficiente.

§ 2º Só os credores que já o eram ao tempo daqueles atos podem pleitear a anulação deles.


157
ARTIGOS
159
 
 
 
Resumo Jurídico

O Que Acontece Quando Um Negócio Jurídico Causa Prejuízo? A Ação Revocatória (Fraude Contra Credores)

Imagine que você tem um débito e, de repente, vê seu devedor se desfazendo de seus bens de forma suspeita, deixando-o sem garantias para receber o que lhe é devido. Essa situação, infelizmente, é possível e o direito prevê mecanismos para lidar com ela. O artigo 158 do Código Civil trata justamente dessa hipótese, conhecida como fraude contra credores.

Em termos simples, o artigo 158 estabelece que um negócio jurídico (como uma venda, doação, ou até mesmo uma dívida assumida) realizado por um devedor que cause prejuízo aos seus credores, e do qual a outra parte tenha conhecimento dessa intenção prejudicial, pode ser anulado.

Vamos detalhar os pontos principais:

  • O que é um negócio jurídico fraudulento?

    • Ocorre quando um devedor, já em situação de insolvência (ou seja, com mais dívidas do que bens para pagá-las), realiza atos que diminuem seu patrimônio.
    • Esses atos podem ser:
      • Dação em pagamento: Dar um bem em pagamento de uma dívida.
      • Remissão de dívida: Perdoar uma dívida que alguém lhe deve.
      • Doação: Presentear alguém com um bem.
      • Venda de bens por preço vil: Vender um bem por um valor muito inferior ao de mercado.
      • Outros atos de disposição gratuita ou por preço reduzido: Qualquer ato que retire bens do patrimônio do devedor sem uma contrapartida justa.
  • Quais os requisitos para anular o negócio? Para que um credor consiga anular um negócio realizado pelo devedor em fraude, são necessários dois elementos fundamentais:

    1. O "eventus damni" (o dano): É a prova de que o negócio jurídico praticado pelo devedor realmente gerou ou agravou sua insolvência, prejudicando a possibilidade dos credores receberem seus créditos. Em outras palavras, o devedor ficou sem bens suficientes para pagar o que deve.

    2. O "consilium fraudis" (a intenção fraudulenta ou o conhecimento da fraude): Este é um ponto crucial. O ato só poderá ser anulado se for provado que:

      • O devedor agiu com a intenção de prejudicar seus credores.
      • Ou, se a outra parte que participou do negócio (o comprador, o donatário, etc.) sabia ou deveria saber que o devedor estava agindo de má-fé e que o ato prejudicaria terceiros. Essa ciência pode ser presumida em algumas situações.
  • O que o credor pode fazer? A Ação Revocatória (ou Pauliana) O credor prejudicado pode entrar com uma ação judicial chamada ação revocatória, também conhecida como ação pauliana. Através dessa ação, o credor buscará provar que o negócio jurídico foi realizado em fraude e, se a justiça concordar, o ato será declarado nulo.

  • Qual o efeito da anulação? Se o juiz decretar a nulidade do negócio, ele será considerado como se nunca tivesse existido. Os bens que saíram do patrimônio do devedor retornam a ele (ou ao seu espólio, em caso de falecimento), permitindo que os credores possam buscar o pagamento de suas dívidas com esses bens.

  • Importante notar:

    • A fraude contra credores é um vício social, pois atenta contra a boa-fé e a segurança nas relações jurídicas.
    • A demonstração do "consilium fraudis" pode ser um pouco mais complexa, mas a lei estabelece presunções que auxiliam o credor na comprovação.

Em resumo, o artigo 158 do Código Civil protege os credores contra atos de má-fé de seus devedores que, de forma consciente ou com a colaboração de terceiros, tentam esvaziar seu patrimônio para se furtar do pagamento de dívidas. A ação revocatória é o instrumento jurídico para reverter essa situação e garantir o direito dos credores.