CÓDIGO DE PROCESSO PENAL
Decreto-Lei Nº 3.689, de 3 de Outubro DE 1941.
Artigo 98
Quando qualquer das partes pretender recusar o juiz, deverá fazê-lo em petição assinada por ela própria ou por procurador com poderes especiais, aduzindo as suas razões acompanhadas de prova documental ou do rol de testemunhas.

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Resumo Jurídico

O Artigo 98 do Código de Processo Penal: Uma Ferramenta de Cautela e Ordem

O artigo 98 do Código de Processo Penal (CPP) é um dispositivo que confere ao juiz uma importante prerrogativa para garantir a ordem e a segurança durante a tramitação de um processo criminal. Em sua essência, ele estabelece que o juiz pode ordenar a prisão de qualquer pessoa que, de alguma forma, perturbar a ordem do ato processual ou que se mostrar recalcitrante (desobediente ou resistente) à sua ordem.

O Que Significa Perturbar a Ordem?

A "perturbação da ordem" é um conceito amplo, mas em linhas gerais, refere-se a qualquer conduta que infrinja as regras de decoro e respeito que devem prevalecer em audiências e outros atos processuais. Exemplos comuns incluem:

  • Interrupções constantes: Falar sem permissão, interromper o depoimento de testemunhas ou advogados, gritar ou fazer algazarras.
  • Comportamento desrespeitoso: Usar linguagem ofensiva, fazer gestos obscenos, demonstrar desdém ou deboche.
  • Altercações: Brigas, discussões acaloradas ou qualquer tipo de conflito físico ou verbal que interrompa o andamento do ato.
  • Descumprimento de instruções: Ignorar as determinações do juiz, como sentar-se em local inadequado ou tentar se comunicar com outras pessoas sem autorização.

O Que Significa Ser Recalcitrante?

Ser "recalcitrante" indica uma resistência deliberada e contínua às ordens judiciais. Não se trata de um mero lapso ou desconhecimento, mas sim de uma recusa em acatar o que é determinado pelo magistrado. Isso pode se manifestar em:

  • Recusa em responder perguntas: Quando a lei permite a recusa, mas o juiz determina que a pergunta deve ser feita, a recalcitrância pode se configurar na insistência em não responder.
  • Desobediência a determinações específicas: Por exemplo, se o juiz determina que um assistente se retire da sala e a pessoa se recusa a fazê-lo.
  • Tentativa de influenciar indevidamente o processo: Atitudes que visam coagir testemunhas, jurados ou outras partes.

O Objetivo da Prisão Preventiva no Artigo 98

É crucial entender que a prisão ordenada com base no artigo 98 não tem caráter punitivo. Seu objetivo é cautelar e disciplinar. Ou seja, visa:

  • Restabelecer a ordem: Garantir que o ato processual possa prosseguir sem mais interrupções.
  • Assegurar a autoridade judicial: Demonstrar que as ordens do juiz devem ser acatadas para o bom andamento da justiça.
  • Prevenir a repetição da conduta: Desencorajar outros a adotarem comportamentos semelhantes.

Quem Pode Ser Preso?

O artigo 98 é genérico e aplica-se a qualquer pessoa presente no ato processual, independentemente de ser parte no processo (acusado, vítima, testemunha), advogado, ou mesmo um membro da plateia. A conduta é o fator determinante, não a qualidade da pessoa.

Procedimento e Limites

Ao ordenar a prisão, o juiz deve fundamentar sua decisão, descrevendo claramente o motivo da prisão e a conduta que a ensejou. A prisão, neste contexto, é geralmente imediata e tem como fim cessar a perturbação ou a recalcitrância.

É importante ressaltar que essa prisão não se confunde com a prisão preventiva por outros motivos (como garantia da ordem pública, conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal). A prisão do artigo 98 visa a manutenção da ordem durante o ato processual. Após o término do ato, a situação da pessoa presa será avaliada de acordo com as demais disposições legais.

Em suma, o artigo 98 do CPP funciona como um mecanismo de defesa da integridade e da eficiência do próprio sistema de justiça, permitindo ao juiz intervir prontamente para garantir que os atos processuais transcorram de forma ordenada e respeitosa.