CÓDIGO DE PROCESSO PENAL
Decreto-Lei Nº 3.689, de 3 de Outubro DE 1941.
Artigo 619
Aos acórdãos proferidos pelos Tribunais de Apelação, câmaras ou turmas, poderão ser opostos embargos de declaração, no prazo de dois dias contados da sua publicação, quando houver na sentença ambiguidade, obscuridade, contradição ou omissão.

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ARTIGOS
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Resumo Jurídico

Interpretação e Aplicação do Artigo 619 do Código de Processo Penal

O artigo 619 do Código de Processo Penal (CPP) estabelece uma regra fundamental no âmbito dos recursos criminais, garantindo a possibilidade de modificação e até mesmo de anulação de decisões judiciais que apresentem vícios, conforme a vontade das partes. Em essência, este artigo autoriza o tribunal, ao julgar um recurso, a, de ofício, reconhecer e sanar erros materiais e conceder a ordem de habeas corpus, mesmo que não tenham sido expressamente pleiteados no recurso interposto.

Vamos desmembrar o dispositivo para uma compreensão mais clara:

O que o Artigo 619 Permite ao Tribunal?

O artigo 619 do CPP confere ao órgão julgador, ao analisar um recurso (seja apelação, recurso em sentido estrito, etc.), o poder de ir além do que foi especificamente pedido pela parte recorrente. Ele faculta ao tribunal:

  1. Reconhecer Erros Materiais: Erros materiais são equívocos evidentes e grosseiros na redação ou cálculo da decisão. Exemplos comuns incluem:

    • Erros de digitação evidentes.
    • Equívocos na citação de leis ou artigos.
    • Discrepâncias claras entre o dispositivo e a fundamentação.
    • Erros de cálculo em custas ou valores.

    A correção desses erros não exige que a parte os aponte explicitamente no recurso. O tribunal pode identificar e sanar tais falhas por iniciativa própria, visando à precisão e clareza da decisão judicial.

  2. Conceder a Ordem de Habeas Corpus: Esta é a parte mais relevante e de maior impacto do artigo 619. Significa que, durante o julgamento de um recurso, caso o tribunal identifique uma ilegalidade manifesta ou abuso de poder que justifique a concessão de um habeas corpus, ele poderá fazê-lo de ofício, ou seja, sem que o habeas corpus tenha sido sequer arguído pela defesa.

    Isso se alinha com o princípio da proteção da liberdade individual. Se durante a análise de uma questão recursal se deparar com uma situação flagrantemente atentatória à liberdade de locomoção do indivíduo, o tribunal tem o dever de intervir para corrigir a ilegalidade, independentemente de um pedido específico para tal.

Aspectos Educacionais e Jurídicos Relevantes:

  • Controle de Legalidade: O artigo 619 reforça o papel do tribunal como guardião da legalidade no processo penal. Ele não se limita a julgar o que as partes lhe apresentam, mas também possui um poder instrutório (embora limitado à análise de ilegalidades manifestas) para corrigir distorções.
  • Princípio da Livre Convencição Motivar: Embora o tribunal possa agir de ofício, sua decisão deve ser sempre motivada. A correção de erro material ou a concessão de habeas corpus devem estar fundamentadas em argumentos jurídicos claros, demonstrando a existência da falha ou da ilegalidade.
  • Natureza de Ordem Pública: A possibilidade de conceder habeas corpus de ofício decorre do fato de que a liberdade individual é um bem jurídico de ordem pública, cuja proteção transcende os interesses meramente disponíveis das partes.
  • Limitações: É crucial entender que o artigo 619 não autoriza o tribunal a inovar em matéria de fato ou de direito que não tenha sido objeto do recurso, exceto no que tange à correção de erros materiais e à concessão de habeas corpus. A vontade das partes, expressa nos limites do recurso, continua sendo o guia principal para a análise da maioria das questões.
  • Harmonia com Outros Dispositivos: Este artigo deve ser interpretado em conjunto com outros que tratam dos recursos e dos princípios do processo penal, como o princípio da ampla defesa e o princípio do contraditório.

Em suma, o artigo 619 do CPP atua como um mecanismo de salvaguarda, permitindo que o tribunal, em situações específicas e de gravidade, corrija distorções ou proteja direitos fundamentais que poderiam passar despercebidos caso se limitasse estritamente ao pedido das partes. Ele é um instrumento de justiça que visa garantir a exatidão das decisões judiciais e a proteção da liberdade individual no decorrer do processo penal.