CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL
Lei Nº 13.105, de 16 de Março de 2015.
Artigo 404
A parte e o terceiro se escusam de exibir, em juízo, o documento ou a coisa se:
I - concernente a negócios da própria vida da família;

II - sua apresentação puder violar dever de honra;

III - sua publicidade redundar em desonra à parte ou ao terceiro, bem como a seus parentes consanguíneos ou afins até o terceiro grau, ou lhes representar perigo de ação penal;

IV - sua exibição acarretar a divulgação de fatos a cujo respeito, por estado ou profissão, devam guardar segredo;

V - subsistirem outros motivos graves que, segundo o prudente arbítrio do juiz, justifiquem a recusa da exibição;

VI - houver disposição legal que justifique a recusa da exibição.

Parágrafo único. Se os motivos de que tratam os incisos I a VI do caput disserem respeito a apenas uma parcela do documento, a parte ou o terceiro exibirá a outra em cartório, para dela ser extraída cópia reprográfica, de tudo sendo lavrado auto circunstanciado.


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Resumo Jurídico

Artigo 404 do Código de Processo Civil: Reflexos das Provas Ilícitas

O artigo 404 do Código de Processo Civil trata da consequência da utilização de provas obtidas de forma ilícita em um processo judicial. Ele estabelece que as provas ilícitas, ou seja, aquelas que violam normas legais ou princípios constitucionais em sua obtenção, não podem ser utilizadas para fundamentar uma decisão judicial.

A essência do artigo 404 é a proteção dos direitos fundamentais e a garantia de um processo justo. A Constituição Federal, em seu artigo 5º, inciso LVI, já consagra essa proibição, declarando que "são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos". O Código de Processo Civil, ao regulamentar essa disposição, detalha seus efeitos práticos.

Consequências da Prova Ilícita

A principal consequência da prova ilícita, de acordo com o artigo 404, é sua inadmissibilidade no processo. Isso significa que o juiz não poderá levar em consideração essa prova ao formar seu convencimento e, consequentemente, ao proferir sua decisão. A prova ilícita não servirá para provar um fato, defender uma tese ou refutar um argumento.

A Teoria dos Frutos da Árvore Envenenada

O artigo 404 também faz menção, de forma implícita, à teoria dos frutos da árvore envenenada (ou fruit of the poisonous tree). Essa teoria estabelece que não apenas a prova diretamente obtida de forma ilícita é inadmissível, mas também todas as provas que dela derivarem, ou seja, que foram descobertas ou obtidas em razão da prova ilícita original.

Imagine que uma prova ilegal leva à descoberta de outra prova. Mesmo que essa segunda prova tenha sido obtida de forma aparentemente legal, se sua existência e obtenção estiverem intrinsecamente ligadas à primeira prova ilícita, ela também será considerada contaminada e, portanto, inadmissível.

Exemplo prático: Uma interceptação telefônica ilegal (prova ilícita) leva à descoberta de documentos que comprovam um crime (outra prova). Mesmo que os documentos tenham sido obtidos de forma legítima posteriormente, se sua localização foi descoberta exclusivamente pela escuta ilegal, eles serão considerados frutos da árvore envenenada e inadmissíveis.

A Exceção: Provas Derivadas Lícitas

É importante ressaltar que o próprio artigo 404 prevê uma exceção importante. As provas derivadas da prova ilícita podem ser admitidas se ficar demonstrado que, mesmo sem a prova ilícita, elas teriam sido descobertas por outras fontes independentes e lícitas.

Ou seja, se a parte conseguir provar que a prova derivada seria encontrada de qualquer forma, independentemente da prova ilícita original, então ela poderá ser utilizada no processo. Essa é uma forma de evitar que a contaminação da prova ilícita se estenda indefinidamente quando existe um caminho lícito para se chegar à mesma informação.

Objetivo e Importância

O artigo 404 do Código de Processo Civil é um instrumento fundamental para a proteção dos direitos individuais e para a manutenção da higidez do sistema judiciário. Ao vedar o uso de provas ilícitas, o legislador busca:

  • Desestimular a prática de violações legais e constitucionais por parte de agentes do Estado ou de particulares no curso de um processo.
  • Garantir a igualdade entre as partes, impedindo que uma parte obtenha vantagem indevida através de meios ilegais.
  • Preservar a confiança no sistema de justiça, assegurando que as decisões sejam baseadas em evidências obtidas de forma legítima e ética.

Em suma, o artigo 404 é um guardião da legalidade e da justiça no processo civil, assegurando que a busca pela verdade real não se sobreponha ao respeito aos direitos fundamentais.