CÓDIGO CIVIL
Lei Nº 10.406, de 10 de Janeiro de 2002.
Artigo 423
Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente.

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ARTIGOS
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Resumo Jurídico

A Interpretação dos Contratos: O Princípio da Boa-Fé e o Artigo 423 do Código Civil

O artigo 423 do Código Civil é fundamental para a interpretação dos contratos, estabelecendo um princípio basilar para a resolução de ambiguidades: a boa-fé. Este artigo nos guia quando o texto contratual não é totalmente claro e permite que as partes cheguem a um entendimento justo, mesmo que as palavras usadas deem margem a diferentes interpretações.

O que o Artigo 423 nos Diz?

De forma simplificada, o artigo 423 afirma que, em caso de dúvida na interpretação de um contrato, a solução que for mais favorável à parte que não redigiu o texto (a parte aderente) será a que prevalecer.

Por que essa Regra Existe?

Essa norma busca equilibrar as forças entre as partes em um contrato. Frequentemente, em contratos de adesão (aqueles em que uma das partes apenas aceita ou recusa as cláusulas propostas pela outra, como em contratos de consumo ou de prestação de serviços), a parte que elabora o contrato tem uma posição de vantagem. Ela define os termos e, por vezes, o faz de maneira a beneficiá-la em detrimento da outra parte.

O artigo 423 age como um mecanismo de proteção contra abusos ou má-fé. Ao determinar que a interpretação mais benéfica para quem não elaborou o contrato deve prevalecer, o legislador incentiva a clareza e a transparência na redação contratual e garante que a parte mais vulnerável não seja prejudicada por cláusulas ambíguas ou de difícil compreensão.

Boa-Fé: O Pilar da Interpretação

O cerne do artigo 423 é o princípio da boa-fé. A boa-fé contratual implica que as partes devem agir com lealdade, honestidade e cooperação durante toda a relação jurídica, desde a negociação até a execução do contrato. Isso significa que, mesmo que uma cláusula possa ser interpretada de duas maneiras, aquela que reflete a conduta esperada de alguém que age de boa-fé, sem intenção de prejudicar a outra parte, será a adotada.

Exemplos Práticos:

Imagine um contrato de prestação de serviços onde uma cláusula sobre a forma de pagamento é confusa. Uma interpretação pode prever um pagamento imediato, enquanto outra permite um prazo maior. Se a parte que não redigiu o contrato, por exemplo, um consumidor, puder demonstrar que, devido à sua interpretação, acreditava ter um prazo maior para pagar, e essa interpretação for razoável diante da redação, o juiz tenderá a decidir a favor dessa interpretação, pois é mais benéfica ao consumidor.

Outro exemplo seria em contratos de seguro. Se uma cláusula que define a cobertura de um sinistro for ambígua, e uma interpretação beneficiar o segurado, enquanto outra beneficia a seguradora, a interpretação que for mais favorável ao segurado terá maior peso.

Conclusão:

Em suma, o artigo 423 do Código Civil é uma ferramenta poderosa para garantir a justiça e a equidade nas relações contratuais. Ele nos lembra que os contratos não são apenas um conjunto de regras frias, mas sim um reflexo da confiança e da lealdade esperadas entre as partes. Ao priorizar a interpretação mais benéfica para a parte aderente em caso de dúvida, o artigo 423 reforça o princípio da boa-fé e a proteção da parte mais vulnerável, promovendo um ambiente jurídico mais justo e equilibrado.