CÓDIGO DE PROCESSO PENAL
Decreto-Lei Nº 3.689, de 3 de Outubro DE 1941.
Artigo 617
O tribunal, câmara ou turma atenderá nas suas decisões ao disposto nos arts. 383, 386 e 387, no que for aplicável, não podendo, porém, ser agravada a pena, quando somente o réu houver apelado da sentença.

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ARTIGOS
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Resumo Jurídico

Artigo 617 do Código de Processo Penal: A Revisão de Ofício e o Princípio da Proibição da Reformatio in Pejus

O artigo 617 do Código de Processo Penal (CPP) é um dispositivo de fundamental importância para a segurança jurídica e para a garantia de um julgamento justo, pois estabelece regras claras sobre como os tribunais devem proceder ao analisar recursos, especialmente quando há uma revisão de ofício da decisão.

O que significa "revisão de ofício"?

A revisão de ofício ocorre quando o próprio tribunal, ao julgar um recurso interposto por uma das partes (seja a acusação ou a defesa), identifica um erro na decisão recorrida que não foi apontado especificamente pelo recorrente. O objetivo é corrigir ilegalidades ou erros manifestos que possam prejudicar o acusado.

O cerne do Artigo 617: A Proibição da Reformatio in Pejus

O ponto central do artigo 617 é a consagração do princípio da proibição da reformatio in pejus. Esse princípio, de origem latina, significa literalmente "pioria reforma". Em termos práticos, ele impede que a situação do réu seja agravada pelo tribunal ao julgar um recurso.

Ou seja, se apenas a defesa recorre buscando a absolvição ou a redução da pena, o tribunal não pode, em hipótese alguma, agravar a pena do réu. A decisão do tribunal, nesse caso, só pode ser para manter a pena, reduzi-la ou absolvê-lo. A proibição se aplica tanto à quantidade da pena quanto à qualidade da sanção penal (por exemplo, não pode converter uma pena restritiva de direitos em pena privativa de liberdade).

Exceções e Nuances:

É importante notar que a proibição da reformatio in pejus aplica-se quando apenas a defesa recorre. Se a acusação também recorre (buscando, por exemplo, o aumento da pena ou uma condenação mais grave), o tribunal poderá, em tese, analisar a possibilidade de agravar a situação do réu, mas sempre dentro dos limites do que foi pedido pela acusação e respeitando os demais princípios do processo.

No entanto, o artigo 617 é categórico: "O tribunal, ainda que o recurso interposto seja apenas da defesa, não poderá agravar a pena." Essa redação demonstra a força e a abrangência da proibição quando o recurso é unicamente defensivo.

Importância para o Devido Processo Legal:

A existência do artigo 617 é um pilar do devido processo legal e da garantia da ampla defesa. Ele assegura que o réu, ao buscar a correção de uma decisão que considera injusta, não corra o risco de ser penalizado duplamente pela simples interposição de um recurso. Essa proteção é essencial para que os cidadãos se sintam seguros em exercer seu direito de buscar a justiça e a correção de erros judiciários.

Em resumo:

O artigo 617 do CPP protege o réu de ter sua situação penal agravada pelo tribunal ao julgar um recurso, especialmente quando apenas a defesa recorreu. Este princípio, conhecido como proibição da reformatio in pejus, é vital para a segurança jurídica e para a garantia de um processo penal justo e equitativo.